domingo, 12 de setembro de 2010

VITORIO MARTELLETTO

Vittorio Martelletto e Bodo Grandcke

Este é um país forjado por exilados.
Foram “povos transplantados” para usar a expressão do professor Darcy Ribeiro, aqueles que construíram a nação.

Com o fim da escravatura ou, antes, a partir da efervescência da campanha abolicionista o país daria início à “importação em massa” de imigrantes europeus.

Uma história com início em Barbacena em 1936, atrelada a dois corações guerreiros que se respeitavam e se emocionavam ao se recordarem de seus países de origem: Italia e Alemanha.

VITTORIO MARTELLETTO
Apontado, durante a década de 40, como um dos principais colaboradores da Rádio Barbacena.
Amigo inseparável de Bodo Grandcke e Marinho Luiz da Rocha.

Nascido em 7 de outubro de 1895, na comunidade Di Sarego, província Di Vicenza, ao norte da Itália, chegou ao Brasil em 1912, em viagem por navio, com idade entre 17 anos, em companhia de seus pais Antonio Domenico Martelletto e Erminia Ramponi.

De família humilde e desprovida de recursos financeiros, Vittorio Martelletto passou a residir com os seus pais em um sitio nos arredores de Barbacena, se dedicando aos afazeres domésticos, a criação de animais de pequeno porte e uma pequena plantação.

Foi contratado para trabalhar com o embaixador José Bonifácio de Andrada e Silva em sua propriedade localizada no bairro do Carmo.

Tempos depois conseguiu emprego na Escola Agrícola Diaulas Abreu na função de “ruralista” vindo a residir com seus familiares no bairro do Alto da Tijuca.

Educado e inteligente Vittorio sentiu na pela as amarguras da imigração, das saudades da terra natal e das discriminações sociais.

Nas horas difíceis foi amparado pelo seu coração adolescente. Trocavam confidencias e choravam juntos as lembranças da Italia.

Cresceu como homem e com dignidade prosperou graças às economias adquiridas com sacrifícios e muito trabalho.

Barbacena tinha em Vittorio Martelletto um dos responsáveis de seu progresso no setor industrial, sendo um exemplo de trabalho, honestidade e amor à terra de seus filhos, onde conseguiu projetar-se no cenário dos grandes empreendedores industriais.

Fundou e dirigiu as Indústria Reunidas VITTORIO MARTELLETTO localizada à rua Sete de Setembro, 386 voltada a fabricação de móveis, ladrilhos, carpintaria e ferraria/serralheria.

Construtor emérito deixou em todas as ruas de Barbacena marcos de seu trabalho.
Vittorio Martelletto faleceu na manhã do dia 15 de outubro de 1952, em Barbacena, deixando viúva Stela Acerbi Martelletto e seis filhos: Alzira, Aurora, Victor, Laurita, Carmen e Léa.

Nasce uma Amizade: Vittorio e Bodo Grandcke
Nobre cidadão Vittorio Martelletto, irmão de João Marteleto e José Marteleto, ao longo da sua trajetória como cidadão italiano “naturalizado brasileiro”, veio a conhecer em 1936 em Barbacena, a figura de BODO GRANDCKE conhecido como o seu grande “irmão alemão”.

[... Bodo era uma pessoa carinhosa, humilde, sem família e solteiro. Confidenciava ao papai a alegria em ter escolhido Barbacena para morar. Era um homem discreto e quase não sabíamos de nada a seu respeito.
Morava na rua Sete de Setembro, em uma casa ao lado da residência do casal Dalmo e Zizinha, onde na ocasião funcionava o Centro Espirita.
Bodo, como profissional, se dedicava ao conserto de aparelhos de rádio, geladeiras e balcões frigorificos.
Trabalhava muito bem e meu pai sempre lhe enviava vários clientes. Diariamente, fazia as suas refeições em nossa casa. Gostava de cantar musicas alemãs e, acompanhava papai nas interpretações do cancioneiro italiano.
Tinham um “ritual” ao tomarem chá (em chimarrões apropriados) colocavam na boca uma bala de hortelã e em seguida degustavam cada gole do chá avaliando-lhe a qualidade ou o sabor.
Conversavam por longas horas lembrando histórias ligadas ao passado enraizado na Alemanha e na Italia. Gostava de ouvir os dois conversarem...] comenta Laurita Martelletto Moreira.

Laurita Martelletto Moreira assevera que, Bodo aparentava ter uns 60 anos de idade. Considerava-se um homem de sorte em ter em papai o seu fiel escudeiro.

[... Lembro-me bem dele, era loiro, forte, alegre e “estava sempre corado”. Gostava de usar calças largas de brim e camisa xadrez.
Depois de fazer algumas economias mudou-se para a rua José Bonifácio, no bairro da Boa Morte, onde mantinha sua oficina.
Iniciou-se então, a sua amizade com MARINHO LUIZ DA ROCHA.
Na época, conseguiu um pequeno terreno, onde hoje, funciona a concessionária Fiat. Lá construiu uma pequena casa onde passou a morar com uma companheira.
Depois veio a Revolução de 30 (quando no último dia de outubro de 1930, Getúlio Vargas fez sua entrada triunfal no Rio de Janeiro. Vestia uniforme militar, um lenço vermelho no pescoço e um chapéu gaúcho de aba larga).
Onze dias depois, Getúlio Vargas nomeado chefe do governo provisório em 3 de novembro, suspendia a Constituição e nomeava interventores em todos os Estados, exceto Minas Gerais, governado por seu aliado Olegário Maciel.
Foi um momento difícil para todos os estrangeiros residentes no país, que foram convidados a optarem pela “naturalização” como brasileiros. Não sei se o Bodo optou pela naturalização. Muitos imigrantes passaram por momentos constrangedores.
Os alemães, por exemplo, foram perseguidos e maltratados, inclusive, o Bodo. Assustado com a situação, modou-se de Barbacena tomando rumo ignorado. Nunca mais ouvimos falar dele...].

Os amigos:
Vittorio Martelletto
Bodo Grandcke
Marinho Luiz da Rocha

Para contar a real história da Rádio Barbacena, por questões éticas e profissionais, temos que voltar às décadas de 1895/1912 e 1936, numa homenagem aos “velhos amigos” Vittorio Martelletto e Bodo Grandcke.

Vittorio por ter amparado como um membro da sua família, o “alemão” que aportou em Barbacena, sem revelar o seu passado. Os dois se tornaram amigos inseparáveis.

Grandcke reconhecido como o “personagem primeiro” da história da emissora pelo fato de ter convidado Marinho Luiz da Rocha, para conhecer de perto um rádio retransmissor (construído por ele) aparelho que, segundo depoimento do radialista João Pereira da Silva, o “Nhô Praxedes” foi usado para os primeiros testes de radiodifusão em Barbacena nos anos de 1946/1947.

Tais experiências, realizadas no edifício Ede, se transformaram nos pontos iniciais para a fundação da Rádio Barbacena, inaugurada em 11 de janeiro de 1948, com a participação efetiva de Marinho Luiz da Rocha e Alceu Nunes da Fonseca, diretor-presidente da empresa “Radinterior” estabelecida no Rio de Janeiro.

Bodo Grandcke, conforme depoimento de João Pereira da Silva foi responsável em 1947, por todo o organograma organizacional técnico da Rádio Barbacena, tendo Marinho Luiz da Rocha, atuado como seu Auxiliar-Técnico.

FONTE
João Pereira da Silva “Nhô Praxedes”.
Depoimentos em maio e outubro de 2005.
Laurita Martelletto Moreira.
Depoimento e acervo fotográfico em novembro de 2005.
José Theodorico de Paula. Radiojornalista e advogado.
Autor da pesquisa “Os Primeiros Anos da Rádio Barbacena – 25 Anos”. Janeiro/1976.
Giacinto Calvi “Gino”.
Casa d’ Itália di Barbacena. Associazione di Cultura di Barbacena, MG.
Presidente Onorário e Agente Consolare d’ Itália Giacinto Calvi “Gino”.
Acervo documental:
Certificato di Nascita Del Signore Martelletto Vittorio. Prot. Nº 9400.
Comune di Sarego-Provincia di Vicenza em 24.05.03.

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Miriam Rodrigues Lopes de Barros.
Rádio Sucesso FM.

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