quinta-feira, 20 de maio de 2010

NEY PEIXOTO DO VALE

Prezado Rogério Varandas,

Respondendo ao seu convite para participar do projeto “RADIODIFUSÃO – a história das emissoras de rádio de Barbacena", agradeço sua gentileza e passo algumas lembranças de minha distante atuação na Rádio Barbacena. Foi meu primeiro trabalho profissional na área da comunicação.

Sou natural de Macaé, RJ, onde nasci em 14 de fevereiro de 1929, filho de Raymundo Peixoto Lins e Maria José Vale Peixoto Lins.

Na minha adolescência tive uma breve experiência amadorística no jornalismo interiorano em minha cidade natal Macaé. Por volta de 1948 entrei na organização Radinterior, que fazia a representação comercial de rádios do interior e possuía a rádio Sul Fluminense em Barra Mansa. Fui designado para dirigir a área comercial da recém inaugurada Rádio Barbacena.
Eu não tinha qualquer referencial sobre a cidade. Ao desembarcar do trem da Central para me dirigir ao Hotel Aliança do saudoso Jorge Abês, assustei-me com o frio e com o tamanho da ladeira que eu subiria carregando minha mala de viagem.

Praticamente comecei do zero, pois o meu antecessor, Marílio dos Santos Fonseca, filho do dono da Radinterior, não se adaptara com a função nem com a cidade.
Todos os dias corria o comércio local em busca de anunciantes para o veículo novo que ainda precisava provar sua utilidade. Meu primeiro cliente foi a Alfaiataria Oggero, do simpático e tímido Oggero da rua XV. Fiz uns dois ternos permutados por espaço publicitário na rádio.

Certa vez me apareceu um cidadão modesto que desejava anunciar a inauguração de um bar na periferia da cidade. Ele descrevia como se fosse uma boate, eu me entusiasmei com a novidade da cidade pacata e dobrei o número de inserções de comerciais, gratuitamente. Na noite de inauguração, eu e outros incautos atraídos pelo anúncio nos deparamos com um barraco modesto mal iluminado, com o dono espantado, sem saber o que dizer.

A Rádio Barbacena era o veículo de difusão mais importante da cidade. Os dois caciques políticos da época, Zézinho Bonifácio da UDN e Biasinho do PSD, adversários ferrenhos e poderosos, estavam de olho na rádio e, obviamente, no meu trabalho. Tive que conviver harmonicamente com os dois, numa corda bamba, apesar da inexperiência dos meus 19 anos.
Deixei a rádio amigo dos dois. Esse talvez tenha sido o meu trabalho mais importante, pois foi fundamental para manter a independência da rádio e sua eqüidistância das disputas e interesses políticos locais.

Ajudei a dinamizar a programação da rádio, criando os programas “Crepúsculo”, “Uma página para você” e “Tango em fantasia” este em parceria com João Baptista Leite, á época, diretor artístico. Dinamizei também o noticiário jornalístico; inclusive com a transmissão externa do animado carnaval barbacenense. Em parceria com os demais diretores, ampliamos o horário de funcionamento da Rádio, instituindo o terceiro turno, isto é, das 20:00 ás 22:00h.
Escrevia diariamente “Uma página para você”. A primeira “página” foi dedicada a Therezinha Boratto, com que acabei me casando e gerando os filhos Alexandre, Marcelo e Lívia. A “página” era lida por João Baptista Leite e Juracy Santos Rocha, com a entonação característica dos locutores da época. Na ausência dos dois era lida pelo barbacenense Walter Bonato Neiva. Sempre evitei o microfone, pois não me considerava apto para a locução.

De Barbacena fui mandado para inaugurar e dirigir a Rádio Itaperuna, com a presença do Presidente da República Eurico Gaspar Dutra. Em seguida fui transferido para o escritório da Radinterior em São Paulo, onde encerrei minha carreira de radialista, passando para o jornalismo no “Diário Carioca”. Em seguida aceitei convite para dirigir o Serviço de Imprensa da Esso, onde criei o “Prêmio Esso de Jornalismo”, que comemorou 50 anos em 2006, considerado a maior láurea do jornalismo brasileiro.

Posteriormente fui diretor do Grupo LTB de onde me desliguei para criar a ACI Assessoria de Comunicação Integrada, que era uma das maiores assessorias de comunicação social do país, com escritórios no Rio, São Paulo e Belo Horizonte, até ser vendida para o grupo JW Thompson.

Espero ter colaborado com o amigo e contribuído com parte da história da Rádio Barbacena. Abraços e sucesso em seu empreendimento.

FONTE
* Ney Peixoto do Vale. Jornalista.
Depoimento em Setembro de 2006 (Via E-mail).

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Luiz Raimundo Canuto Chaves “Luiz Chaves”.
Narrador e comentarista esportivo.
Rádios Barbacena AM, Correio da Serra AM e TV Bandeirantes de Belo Horizonte.

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