Prezado Rogério Varandas e amigos do blog Radiodifusão,
Nasci em Barbacena em 26 de junho de 1968.
Sou filho de Altair Prenassi e Eloísa de Souza Prenassi.
Descrever o que foi o meu trabalho na Rádio Sucesso FM não é muito difícil, mas desafiador. Tão desafiador quanto foi tentar modificar uma estrutura estabelecida, uma rota bem definida em uma rádio de uma cidade tão “conservadora” e ao mesmo tempo tão carente quanto Barbacena em meados de 1980.
Minha paixão por música vem de família, mas meu contato com rádios se deu antes mesmo do nascimento da Sucesso FM, quando eu passava horas ouvindo e aprendendo com as Rádios Cidade e Transamérica FMs do Rio de Janeiro e a extinta Manchester FM de Juiz de Fora.
Após o nascimento da A.B.C. Rádio e Televisão/Sucesso FM em novembro de 1985, não reclamava em subir e descer a pé, pelo menos três vezes por semana, o “morro do DEMAE”, primeiro estúdio da rádio.
Claro que muitas vezes também contava com a carona de meus pais que entendiam o meu fascínio pelo assunto, pois meu pai Altair Prenassi, foi locutor da Rádio Barbacena AM e colega do então também locutor iniciante, Hélio Calixto da Costa.
Nestes momentos de visita à rádio, eu aprendia a utilizar a voz, gravar e operar a mesa do estúdio de gravação aprendia tudo sobre música com Manoel Antônio e, vez por outra, sentia um frio na barriga, quando Rogério Barbosa me chamava “no ar” para falar sobre alguma coisa.
Em 1987, com 19 anos, resolvi morar em Juiz de Fora para estudar para o vestibular. Para ajudar nos custos, precisa trabalhar e não pensei duas vezes antes de me candidatar a um estágio para locutor da Rádio Manchester FM, até então, a única FM na cidade.
Aprovado no teste, após dois meses, comecei a fazer as madrugadas da rádio. Nessa época, já cursava a Faculdade de Administração de Empresas na UFJF e a conciliação de horários já estava bastante complicada.
Com experiência suficiente, comecei a gravar comerciais na Sucesso FM nos fins de semana. Não demorou muito para o amigo Rogério Barbosa me convidar para fazer o Let’s Dance, aos sábados, no horário de 08:00 à meia noite. Era tudo que eu queria: na faculdade, como todos desejavam, e trabalhando em duas rádios de cidades diferentes.
A Sucesso FM era referência em tecnologia, lançamentos musicais, jornalismo, mas um toque de irreverência e algo “fora dos padrões estabelecidos” precisava acontecer. Ora, as minhas referências como rádio continuavam a ser as rádios do Rio de Janeiro e precisava colocar isso em prática.
Passei um mês elaborando um projeto para um programa que pudesse substituir o Let’s Dance. A primeira barreira foi o nome. Eu pensava: “tem que ser algo fora dos padrões. Tem que chocar para ser diferente”.
Foi numa tarde de um dia de junho de 1989 que, novamente, subi o morro da rádio para apresentar o novo projeto ao Rogério Barbosa e ao José Rubens de Albuquerque. Aprovado, na semana seguinte todas as vinhetas, produzidas na Manchester FM de Juiz de Fora, já estavam prontas e a chamada para o lançamento do PARANÓIA estava no ar.
A receita era simples: muita música, poucos intervalos comerciais e muita promoção e sorteios. A irreverência ficava por conta de uma locução voltada para o público jovem, ou seja, o tom de voz muito alta, com a fala muito rápida e, às vezes, com a presença de alguns palavrões, padrão muito utilizado no Rio nesta época, como eu queria.
Outra marca do programa era o combate á música “brega”, mas sem intenção nenhuma de ofensas, mas de brincar e divertir. O alvo do quadro, chamado de Momento Brega, normalmente, era o nosso amigo e ANIMAL Zé Rural, que também não me poupava em todas as manhãs da rádio.
Claro que não posso me esquecer dos outros quadros como o Melhor de três, Mini-especial, Reumatismo e o Paranóia na Madrugada. Aliás, o PARANÓIA inovou tanto que conseguiu, depois de muita “briga” com o José Rubens, diminuir o tempo da Madrugada Sucesso aos sábados, que passou a ter início às 2 da madrugada.
A novidade emplacou, a audiência comprou a idéia e não faltavam patrocínios para o programa. O tiro foi certeiro, o sucesso era inevitável, mas a irreverência era demais, na visão de alguns poucos. Tive vários problemas com a direção da rádio no início que reclamava do excesso de palavras “não muito ortodoxas” durante o programa. Palavras que hoje em dia fazem parte do nosso vocabulário diário e até de dicionários.
Lembro-me de uma manhã de segunda-feira em que a direção da Sucesso me ligou dizendo que um padre havia ligado a rádio no sábado à noite e estava indignado com as coisas que ouviu e que a rádio precisava tomar providências. Eu disse: “ora, o que um padre faz no sábado à noite ouvindo rádio e músicas que não lhe interessam?
Além do mais, estamos em um pais democrático. É só ele desligar o rádio que não ouvirá o que não quer. E por fim, o meu público-alvo é o jovem e prefiro falar a língua dele para continuar garantindo a audiência”, argumentos que tiveram que ser aceitos, apesar de estarem contrariados.
O PARANÓIA inovou muitas atitudes, expressões e ditou moda na música de Barbacena. A partir de 1990, em parceria com o amigo Marco Antônio Dias, que apresentava o Rock da 101 aos sábados ás 5 da tarde, iniciamos a série de festas no Clube Barbacenense, chamadas de Noite do Paranóia.
A partir de 1991, me dediquei somente a Rádio Sucesso nas noites de sábado para não prejudicar meus estudos.
A parceria com Marco Antônio rendeu vários projetos de shows e eventos, entre eles o lançamento em Barbacena do grupo paulista Tek Noir e do grupo mineiro Skank, até então desconhecidos que em maio de 1993, colocou mais de 2.000 pessoas no Hirondelles Fort Country no lançamento de seu primeiro CD.
A partir de 1993, utilizando o apoio e o prestígio que a Sucesso FM me trazia, investi em produções de peças de teatro em parceria com as amigas Maria da Glória Bittar “Gogóia” e Kátia Cilene. Barbacena pode conhecer de perto o trabalho de atores famosos como Maria Zilda, Stepan Nercessian, Marcelo Faria, André Gonçalves, Carlos Alberto, Priscila Camargo, Cristina Oliveira, Ângela Vieira, Fábio Assunção e Silvia Bandeira.
O PARANÓIA ficou no ar até final de 1997, quando resolvi que não tinha mais fôlego para aquele tipo de locução e que precisava dar outro rumo à minha vida profissional. Foram 10 ótimos anos de trabalho com a certeza de ter deixado minha assinatura no tempo e na história e de ter aberto portas para outros seguirem a mesma direção.
Depois do término do PARANÓIA à convite da Sucesso FM, fizemos um PARANÓIA REMEMBER em novembro de 2005, em comemoração aos 20 anos da emissora.
Meu compromisso, a partir daí, foi de fazer um programa por ano, no mês de novembro, a cada aniversário da rádio. Com certeza será sempre um prazer rever os tantos amigos que fiz ao longo de 10 anos de trabalho na Rádio Sucesso FM de Barbacena!!!
Nota:
Atualmente, residindo em Juiz de Fora ao lado de seus familiares, Luiz Cláudio de Souza Prenassi administra (direção e programação) a Webradio Paranóia com o apoio do jornalista Marco Antônio Dias.
FONTE
Luiz Cláudio de Souza Prenassi.
Depoimento em abril de 2006.
Altair Prenassi e Eloísa de Souza Prenassi.
Apoio documental em maio e junho de 2006.
PRÓXIMA POSTAGEM
Jane Sampaio Silva.
Rádios Correio da Serra AM, Fama FM 104,5 FM.